Neste espaço não se discriminam gostos, fetiches, taras, manias, desvarios ou inclinações gastronómicas. Só não toleramos seguidores fanáticos do tripadvisor.
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E quando a caneca parecia ter caído em desgraça na restauração nacional, eis que somos recebidos com o melhor vinho de caneca que já provamos.
Não é a caneca que faz o vinho, é o vinho que faz a caneca. Sejamos honestos, a caneca é mais dada, não parece um balão de um laboratório químico e também alivia qualquer vinho mais asmático. Decantador é o que um homem quiser.
Quase todos nós conhecemos pessoas que temem a sensação de embriaguez, como se não houvesse consciência nesse espaço em que se alteram as leis da gravidade. “Daquele momento, e desses já tive muitos, em que ainda temos o domínio da situação e em que tudo ganha um outro sentido. É nessa altura que pensamos a sério nas pessoas de quem gostamos, que decidimos ir em frente com o projecto sempre adiado (como fazer a viagem da nossa vida), que deixamos de temer os obstáculos e perdemos os medos que não nos deixam viver em plenitude. É o momento do sonho, da paz e do amor”. É um momento delicioso e arriscado que antecede o abismo da bebedeira, mas que vale bem a pena para quem aprecia emoções intensas.
Só 54 litros por ano por pessoa? Uma garrafa por semana? Estão a brincar? Se é para contar as crianças, idosos, inimputáveis ou acamados também vamos concluir que só temos 2 orgasmos per capita por ano.
Isto parece uma daquelas afirmações bombásticas da Associação de nutricionistas, da Men´s Health, da Liga Vegan Portuguesa, do PAN ou da revista Sentinela. Conversa de balneário de ginásio.
Estas contas são como as do IRS: dá 54 litros por ano por pessoa, mas só uma minoria é que contribui a sério. Os outros ou estão isentos ou fogem.
Sobre o vídeo, há que reparar no receio e hesitação com que o apresentador olha para o vinho no copo: ou era uma mistela ou ele faz parte do grupo de portugueses que não contribui para os 54 litros. No final nota-se algum alívio, de quem verificou que era apenas compal de frutos vermelhos e não água tingida.
Para muitos filhos da mãe da restauração, o vinho ainda é considerado um pack extra. Tipo um volante em pele, o alarme ou o ajuste lombar. Mas pensem lá comigo e digam-me se há algum modelo base de um carro que não inclua rodas, seus trengos. Porque o vinho é isso mesmo, faz parte da refeição, não é um luxo ou uma mera opção que possamos deixar de fora sem perder nada na experiência.
Se não fosse por muito mais, já tinha um bom motivo para adorar o Caneiro. Ora cá está um espaço onde se sabe assumir os vinhos e onde se percebeu que uma refeição não inclui só o que se trinca. E também têm excelentes sopas.
Estamos em ano de eleições e, como sempre acontece, o debate derrapa para questões estéreis e entediantes, passando-se ao lado dos grandes temas nacionais. Ainda não ouvi um único jornalista ter coragem de perguntar: "Senhor candidato, qual a sua posição relativamente aos vasilhames de vinho que nos chegam às mesas?". Mais complicado do que opinar sobre adopção de crianças transgénero por casais homossexuais vegetarianos em Portugal, é meter-se na polémica dos vasilhames. É colocar-se a jeito para acusações de irresponsabilidade, promotor do alcoolismo e pai da sinistralidade, mesmo que todos já tenham concluido que estes padrões estão ultrapassados e desadequados aos hábitos actuais.
Vejamos o dilema no jantar de um casal. Uma garrafa de 75 cl é claramente insuficiente para dois. Aliás, é a quantidade aceitável para um ser humano. Mas o que fazer? Outra de 75cl pode ser excessiva no preço e na quantidade, e uma 37,5 cl não compensa, é demasiado cara. Provavelmente, a maioria dos homens reduz o consumo para 45 cl, restando cerca de 30 cl para a companheira. E esta vergonha repete-se diariamente em todos os restaurantes deste país, com milhões de portugueses a aguentarem largos minutos sem beber, para haver vinho até ao final da refeição. A saída do mercado das garrafas de 1 litro é um dos maiores escândalos da nossa história recente. Caraças, os garrafões de 5 Lts não passaram a 4, 75 Lts. Se vazarmos um garrafão, enchemos seis garrafas e meia, até parece que rendeu mais. E as garrafas de 1,5 lts? Se uma de 37,5 cl é percentualmente mais cara, pois estamos a falar de mais um engarrafamento (garrafa, rolha, rótulo, etc.), a garrafa de 1,5 lts devia apresentar um desconto percentual face a duas de 75 cl. E ninguém as vê por aí. Todas estas questões se agravam se falamos de vinho verde, em que o néctar desliza sem atrito. Nesta área, os valores envolvidos são mais assustadores: dois convivas tratariam, sem dificuldades, de dois litros, que poderiam ser consumidos com duas garrafas, mas normalmente cingem-se a duas vasilhas de 75 cl, caso contrário, teriam de pedir uma terceira, ultrapassando a barreira psicológica dos 200 cl. Sejamos honestos, garrafas de 1 litro aumentam o consumo de álcool nos restaurantes em pelo menos 25 %, dinamizando a produção vitivinícola e resolvendo os problemas de escoamento de produção. Para além de que os 25 cl em falta viriam dar mais decência aos actuais preços praticados por garrafa. Convenhamos que é uma vergonha. É a única área onde não se procuram valores redondos: alguém sabe o preço dos 75 cl de gasóleo? Se não há coragem política para decidir, devia haver coragem para um referendo. Eu voto no partido que assumir esta questão como prioridade para a próxima legislatura. Aqui fica a minha sugestão de pergunta para o referendo: "Concordas com a obrigatoriedade dos vasilhames de 50 Cl, 1 L e 1,5 L para todos os vinhos comercializados em território português?" Sim, concordo.
Realizou-se no passado fim-de-semana o Essência do Vinho Porto 2009 no Palácio da Bolsa, onde foram eleitos os 10 melhores vinhos portugueses para 2009.
A organização requisitou elementos do já conceituado painel de provadores do Chispes e Couratos mas de facto nenhum de nós pôde estar presente, no meu caso devido a compromissos de natureza gastronómica previamente agendados.
Não obstante este pequeno contratempo divulgamos aqui a lista dos eleitos:
Top 10 dos Vinhos Portugueses | 2009
BRANCOS
Soalheiro Alvarinho 2007 - António Esteves Ferreira
TINTOS
1º Scala Coeli 2006 - Regional Alentejano - Fundação Eugénio Almeida
2º Vinhas da Ira 2006 - Regional Alentejano - Henrique José de La Puente Sancho Uva
3º Quinta Vale D. Maria 2006 - Douro - Lemos & van Zeller
4º Quinta das Tecedeiras Reserva 2006 - Douro - Global Wines
5º Quanta Terra 2006 - Douro - Quanta Terra
6º Herdade dos Grous Reserva 2006 - Regional Alentejano - Herdade dos Grous
7º CV 2006 - Douro - Lemos & van Zeller
VINTAGE
1º Quinta do Vesúvio Vintage 2006 Vinho do Porto Generoso - Symington Family Estates
2º Dow's Quinta Senhora da Ribeira Vintage 2006 Vinho do Porto Generoso - Symington Family Estates
Os colegas confrades concordarão comigo, quando digo que no mais curto espaço de tempo, teremos que provar grande parte destes vinhos, por forma a validar a escolha, (algumas delas ousadas), dos nossos colegas de beberetes!
À mesa com faz-me lembrar o tipo de tertúlia “À Conversa com…”, promovida por uma qualquer instituição de renome. [Como vem a propósito, lanço, desde já, o desafio aos comensais dos Chispes e Couratos para promoverem esse tipo de iniciativa um pouco por todo o país (não se esqueçam dos convidados, hum!)]. JP, Eurico, Daniel, eu própria, e o ímpar conversador/moderador Miranda, que com o seu estilo narrativo inigualável e bem-disposto (em vez de narrativo devia dizer-se caralhativo, tal o número de vezes que aplica a palavra e sempre com uma enorme riqueza semântica, típico de um “puro” transmontano), aquecemos uma destas noites, à volta de um bom tinto da casa, de S. João da Pesqueira, o perfeito acompanhante para um macio presunto transmontano. A carne do homem do barroso, como nós já a conhecemos e tantos outros seguramente, é imaculada; as batatas fritas às rodelas bem sequinhas e o arroz de “estrugido” à transmontana com pequenos pedaços de carne e umas azeitonas a saltitar completam a farta refeição.
Para o Miranda, o que fazia falta era animar, ainda mais, a malta e, vai daí, pede licença para entrar na mesa com o “O Professor”, um DOC do Douro. Como única representante feminina duriense naquela mesa, não pude deixar os créditos por mãos alheias e lá comecei a descortinar sobre os vinhos, ajudada pelo jovem Daniel que também quis dar o seu “palpite”. Mas eis que, de repente, os meus sentidos gustativos deram lugar aos auditivos por causa de uma surpreendente afirmação “à Miranda”: “Quando as mulheres percebem de vinhos, é o caralho…”, a que se seguiu uma farta gargalhada. A conversa tomou, a seguir, um rumo bem diferente com a chegada do Sr. Engenheiro de Vila Flor, uma figura aparentemente conhecedora do mercado vitivinícola que se aproximou da nossa mesa, como se precisássemos de fertilizante. Claro está que o Miranda, homem rijo, bem tratado e sem “papas na língua”, não foi em conversas e logo respondeu com a mesma moeda “O Sr. também não percebe um caralho de vinhos”. Pelo menos, ficamos a saber que o barrosão Miranda percebe de investimentos e que conseguiu, nos anos oitenta, aprovar projectos agrícolas de grande arrojo, pois nem “que tivesse de lutar contra 500 caralhos”, ele iria conseguir.
Repare-se no quão rica em significados é a palavra: Do latim "caraculo", substantivo, adjectivo, advérbio ou outra coisa qualquer que pode significar lixado, está tudo perdido, pessoas, ah, não, porém, vai passear, talvez, adorar, etc.
Diz o povo que quem conta um conto acrescenta um ponto… foram muitas as histórias que se ouviram no 2º piso do restaurante “Os Sabores do Barroso” e talvez alguns pontos se somaram. Chegou, pois, o momento de dizer a verdade… bebemos 6/7 garrafas de bom néctar duriense.