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Chispes e Couratos

Neste espaço não se discriminam gostos, fetiches, taras, manias, desvarios ou inclinações gastronómicas. Só não toleramos seguidores fanáticos do tripadvisor.

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08
Jul09

What the fuck is this?

JP

Não sou um homem de muitas nem longas viagens. Se tivesse vivido na época dos descobrimentos, certamente não seria hoje lembrado por nenhuma viagem de jeito. Na melhor das hipóteses, poderia ter descoberto a Madeira ou os Açores (até S. Miguel), que também não são assim tão longe. Às Américas é que nunca, a meio teria voltado para trás: "não vale a pena continuarmos, isto é só água. Vamos mas é voltar, que já estou com saudades de uma boa cabritada." Esse é claramente o meu problema: eu não sobrevivo muito tempo longe dos nossos restaurantes.


Nos últimos anos, tenho feito vários exercícios para tentar melhorar a minha resistência quando sou afastado da nossa gastronomia. Mas ainda só aguento alguns dias. Precisava de um programa de treino intensivo para resistir em ambientes extremos - parecido com a preparação a que são sujeitos os astronautas para viajar no espaço.
E por falar em ambientes extremos: fui a Londres.
Londres representa actualmente o El Corte Inglês de há uma década. Temos de aturar a malta que nunca encontra nada de jeito por aqui e só faz compras em Londres. "Eu já só como Pickles do Harrods. Os daqui dão-me cabo da figadeira. Nem sei como aguentas." Isto para não falar no pessoal que vai a Londres para comprar livros. "Se te lembrares, traz-me uma caixa de ASPIRINAS de Inglaterra para eu comparar os folhetos médicos. Não suporto a tradução portuguesa, está cheia de erros".
OK, há os museus, os teatros, as livrarias, os mercados, os parques, o metro e sabe-se lá que mais. Mas quando fiz uma incursão pela boa e típica gastronomia inglesa só me ocorreu: "what the fuck is this?"
A falta de imaginação gastronómica deste povo é verdadeiramente épica e devia fazer parte dos manuais escolares, tal como a revolução industrial. Os ingleses a olharem para uma vaca, um porco ou um peixe parecem-me o Michael Jackson a olhar para uma mulher: simplesmente não lhes ocorre nada de interessante para fazer.
Foi num tasco mesmo em frente ao British Museum que decidi arriscar o «Fish and Chips». Como é que eles conseguem colocar em risco a vida de um único pescador para servirem aquela porra? O problema é que o ingleses ainda são um povo bem influente, caso contrário as organizações internacionais proibiam a pesca para fins tão desumanos. Quer dizer, os asiáticos não podem fazer sopas de testículos de tigre para estimular a potência sexual, mas os ingleses podem andar a exterminar tanto peixe para fazer panados. As organizações ambientais têm de ser claras: "Meus caros, se prometerem que é para uma boa caldeirada ou para uma parrilhada, podem pescar. Senão, toca a abater a frota."
Mas a surpresa estava reservada para um steak à inglesa, num bar bem agradável (nisso os ingleses são muito bons) junto ao soho. O steak chega acompanhado de umas potatoes com pele e, para minha surpresa, sem olive oil. Corto o steak, que me parece tenro, e provei. What the fuck is this? Um pedaço de carne sem tempero, à espera de mostarda e maionese.

Verdade seja dita: ir a Inglaterra devolve-nos algum orgulho em ser português. Podemos não ter educação, justiça, políticos, PIB, saúde de jeito... mas de bifes percebemos nós. É o preço a pagar. A boa comida não é compatível com o desenvolvimento cultural e económico. Ou uma coisa ou outra. Eu já fiz a minha escolha.

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