Concordas com as actuais garrafas de 75 cl de vinho?
Estamos em ano de eleições e, como sempre acontece, o debate derrapa para questões estéreis e entediantes, passando-se ao lado dos grandes temas nacionais. Ainda não ouvi um único jornalista ter coragem de perguntar: "Senhor candidato, qual a sua posição relativamente aos vasilhames de vinho que nos chegam às mesas?". Mais complicado do que opinar sobre adopção de crianças transgénero por casais homossexuais vegetarianos em Portugal, é meter-se na polémica dos vasilhames. É colocar-se a jeito para acusações de irresponsabilidade, promotor do alcoolismo e pai da sinistralidade, mesmo que todos já tenham concluido que estes padrões estão ultrapassados e desadequados aos hábitos actuais.
Vejamos o dilema no jantar de um casal. Uma garrafa de 75 cl é claramente insuficiente para dois. Aliás, é a quantidade aceitável para um ser humano. Mas o que fazer? Outra de 75cl pode ser excessiva no preço e na quantidade, e uma 37,5 cl não compensa, é demasiado cara. Provavelmente, a maioria dos homens reduz o consumo para 45 cl, restando cerca de 30 cl para a companheira. E esta vergonha repete-se diariamente em todos os restaurantes deste país, com milhões de portugueses a aguentarem largos minutos sem beber, para haver vinho até ao final da refeição.
A saída do mercado das garrafas de 1 litro é um dos maiores escândalos da nossa história recente. Caraças, os garrafões de 5 Lts não passaram a 4, 75 Lts. Se vazarmos um garrafão, enchemos seis garrafas e meia, até parece que rendeu mais.
E as garrafas de 1,5 lts? Se uma de 37,5 cl é percentualmente mais cara, pois estamos a falar de mais um engarrafamento (garrafa, rolha, rótulo, etc.), a garrafa de 1,5 lts devia apresentar um desconto percentual face a duas de 75 cl. E ninguém as vê por aí.
Todas estas questões se agravam se falamos de vinho verde, em que o néctar desliza sem atrito. Nesta área, os valores envolvidos são mais assustadores: dois convivas tratariam, sem dificuldades, de dois litros, que poderiam ser consumidos com duas garrafas, mas normalmente cingem-se a duas vasilhas de 75 cl, caso contrário, teriam de pedir uma terceira, ultrapassando a barreira psicológica dos 200 cl.
Sejamos honestos, garrafas de 1 litro aumentam o consumo de álcool nos restaurantes em pelo menos 25 %, dinamizando a produção vitivinícola e resolvendo os problemas de escoamento de produção. Para além de que os 25 cl em falta viriam dar mais decência aos actuais preços praticados por garrafa.
Convenhamos que é uma vergonha. É a única área onde não se procuram valores redondos: alguém sabe o preço dos 75 cl de gasóleo?
Se não há coragem política para decidir, devia haver coragem para um referendo. Eu voto no partido que assumir esta questão como prioridade para a próxima legislatura. Aqui fica a minha sugestão de pergunta para o referendo: "Concordas com a obrigatoriedade dos vasilhames de 50 Cl, 1 L e 1,5 L para todos os vinhos comercializados em território português?"
Sim, concordo.