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Chispes e Couratos

Neste espaço não se discriminam gostos, fetiches, taras, manias, desvarios ou inclinações gastronómicas. Só não toleramos seguidores fanáticos do tripadvisor.

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23
Mai09

Barriga Farta

Paulo

Gosto dos restaurantes que pelo nome nos dizem logo ao que vamos e que, obviamente, cumprem o prometido. Por exemplo, “Barriga Farta”. Em que penso imediatamente? Muita comida, muito vinho, enfartamento, pastilhas Rennie, excesso de calorias, quilo a mais. E o restaurante com tal nome, situado em Baião, cumpre o que promete? Sim, minhas senhoras e meus senhores. Cumpre e com distinção.
Conseguindo chegar lá – sem gps ou alguém que conheça a zona, até pode não ser fácil; a seu favor tem o facto de ser dos raros restaurantes onde se pode ir também de comboio ou de barco, já que fica mesmo ao lado da estação da Ermida e na margem do rio Douro com cais à porta –, chegando lá, escrevia eu, temos a garantia de que vamos sair absolutamente satisfeitos, tanto pela quantidade como pela qualidade da comida. E para comer muito e bem, o Barriga Farta tem um menu especial para o efeito, em que por 25 euros se podem comer várias entradas, dois pratos, e diversas sobremesas, tudo à discrição, assim como o vinho.
Mal nos sentamos à mesa no interior do belo edifício, e com uma bela paisagem ali mesmo ao nosso lado, servem-nos imediatamente uma cidra, uma pasta de atum ma-ra-vi-lho-sa e umas azeitonas à maneira. Depois, vêm as entradas propriamente ditas: uma série de panelinhas com “verde” (algo típico da zona), feijoada, rojões, chouriça, pataniscas, omelete, alheira, croquetes, feijão-frade. Ver sete comensais de apetite voraz na disputa das diversas entradas colocadas numa placa giratória foi de pôr, positivamente, a cabeça à roda tal era o rodopio das panelinhas. Para apaziguar os ânimos, tínhamos um bom tinto do Douro, servido sem parar.
Depois de um segundo “round” de entradas, avançamos para os pratos principais. Começamos com o bacalhau com broa. Perdão, deixem-me corrigir: começamos com o divinal bacalhau com broa! Discutiu-se se não terá sido o melhor que já havíamos comido, desfiadinho e totalmente embebido em azeite, excelente. Nos entretantos, mudamos para o vinho branco da zona, que é uma espécie de “bi” do mundo vinícola, aquilo já não é bem terra de verde, mas também ainda não é “maduro”, é quase como uma terra de ninguém mas com o melhor dos dois mundos. Porém, o vinho servido levava ao extremo o seu carácter bi-sexual, com um travo indefinido e por vezes estranho, o mais florado que já bebemos, ao ponto de vaticinarmos que ao invés de terem colocado pedaços de carvalho no vinho durante a sua maturação tinham atirado montes de pétalas de flores lá para dentro. Decidimos regressar ao tinto no segundo prato, o anho assado no forno à moda de Baião (também tínhamos a alternativa da vitela arouquesa), bastante bom, contudo já não tão memorável (em especial para apreciadores de longa data). Importa dizer que houve segunda rodada em ambos os pratos, algo sempre prontamente sugerido pelos funcionários.
Finalmente, vieram as sobremesas, meia dúzia delas, todas muito boas, quase todas repetidas, cafés em dose dupla e um bagaço daqueles puros e duros, dos que não se consegue beber sem derramar muitas lágrimas de sofrimento (optamos por não fazer figuras tristes…).
Acabámos a longa refeição absolutamente satisfeitos e deliciados e nem o facto de terem cobrado 5,50 euros a um dos convivas por um bocado de whisky nos retirou a sensação de êxtase. O local, muito aprazível, é propício a um justo refastelamento pós-manjar e não havendo quem esteja em condições de conduzir sempre é possível uma pessoa arrastar-se até à estação e apanhar o comboio para casa.

p.s. – Falaram-me recentemente de um restaurante chamado “Barriga Cheia” lá para os lados de Águeda. Também fará jus ao nome?

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