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Chispes e Couratos

Neste espaço não se discriminam gostos, fetiches, taras, manias, desvarios ou inclinações gastronómicas. Só não toleramos seguidores fanáticos do tripadvisor.

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26
Jul08

Gostar de caracóis no Norte

Paulo

É muito difícil a vida de um amante de caracóis no Norte de Portugal. O pessoal do Sul não faz ideia. Para começar, quando dizemos que gostamos de caracóis, as pessoas olham para nós quase como se fossemos pedófilos, com uma cara de nojo. Por mais que tentemos explicar o quão saborosos eles são, nunca o compreendem nem aceitam, comparam-nos a uma qualquer tribo perdida de África ou da Amazónia que sente prazer em comer os bichos mais horríveis que possam existir.

Por causa deste nosso amor, somos discriminados na vida social e profissional, porque “uma pessoa que goste de comer aquilo não pode ser boa pessoa e bom trabalhador, e de certeza que só gosta de coisas escabrosas e indecentes”. Recomendo, aliás, que alguém faça um estudo sério sobre a taxa de divórcios e de desemprego entre os amantes de caracóis.

Se calhar, se as pessoas deixassem de reparar apenas nos cornos, no muco e no aspecto viscoso dos caracóis e soubessem que, para além de serem muito saborosos, eles são extremamente ricos em proteínas e pobres em calorias e gorduras, mudariam rapidamente de opinião e, em vez de irem a correr para os ginásios ou para as lipoaspirações, metiam-se nas esplanadas a devorar pires e pires de caracóis para manterem a linha. É o problema da sociedade actual: só se liga à imagem e não ao conteúdo. Se és feio por fora, não podes ser bom por dentro. Tá mal!

Depois, há a questão da dificuldade em encontrar um sítio para comer caracóis. Durante anos, assim que chegava o Verão, começávamos a percorrer Braga inteira na esperança de encontrar finalmente os ansiados papéis A4 colados nas vitrinas a anunciar “Há caracóis”. A seguir alargávamos a nossa busca às cidades mais próximas e, por fim, às localidades costeiras. Mas sempre sem sucesso. De vez em quando chegava até nós o boato de que “em tal sítio parece que há…”. Mas nunca havia.

Felizmente, a determinada altura começaram a aparecer as “Festas da Cerveja” e com elas os tão desejados caracóis. Aonde houvesse uma, lá estavam todos os amantes destes moluscos. Tal e qual uma romaria. Penso que se alguém se dedicasse a estudar o sucesso das Festas da Cerveja perceberia que isso se devia quase exclusivamente aos devotos dos caracóis.

Até que um dia, descobrimos o “Rampinha”, em Braga. Que serve caracóis durante todo o ano. E uns caracóis fabulosos, os melhores, servidos como mais gostámos, a nadar em muito azeite, alho, coentros e orégãos… Desde então, nunca mais quis saber de Festas da Cerveja, tinha encontrado o meu templo dos caracóis! (Já agora, as amêijoas do “Rampinha” também são algo de divinal).

Este desabafo sobre caracóis vem a propósito do facto de, há alguns dias, um café perto da casa do JP ter feito a sua própria Festinha da Cerveja na qual também não faltaram os imprescindíveis caracóis. Disse-nos o dono que tinha descoberto na Festa da cidade que havia muitos bracarenses adoradores desse petisco, o que não lhe passava pela cabeça ser possível. Mas é a mais pura das verdades. Nós, amantes de caracóis no Norte, somos uma imensa minoria ou uma pequena maioria, como quiserem. Fizemos, nesse dia, o nosso papel, procuramos convencê-lo a servir regularmente caracóis, com a promessa de que os iríamos ali consumir várias vezes. Não se trata de uma traição ao “Rampinha”, mas apenas uma forma de garantir um outro local para degustar os “bichinhos”. Todos temos que ajudar à disseminação de sítios onde comer caracóis no Norte do país. Passem a palavra!

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