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Chispes e Couratos

Neste espaço não se discriminam gostos, fetiches, taras, manias, desvarios ou inclinações gastronómicas. Só não toleramos seguidores fanáticos do tripadvisor.

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24
Jul08

O que vestir para um Pica no Chão?

JP

Este debate vem a propósito da nossa ida ao "Buraquinha", em S. Mamede d'Este, em Braga.
Há muito poucas fontes de informação sobre o que devem as pessoas vestir para as mais diversas situações gastronómicas. Os designers de moda ignoram a gastronomia na criação das suas propostas, talvez porque a própria área da moda veja na comida uma ameaça aos seus padrões. E isto acabou por contaminar o cidadão comum. Quem é que hoje em dia pensa no que combina bem com um bacalhau de cebolada? Quem reflecte se a gravata não vai destoar quando o coelho à caçador chegar à mesa? Ninguém!

Ora, o Eurico (um dos comensais deste blog, um homem de desafios e que não perde tempo a ver o chão que pisa, pisa e pronto) apresentou uma solução arriscada na nossa ida ao Pica no Chão do Buraquinha: calças de sarja bejes, com camisa de linho imaculadamente branca, arregaçando as mangas em duas discretas dobras, dando um toque jovem e blasé.
O Eurico cometeu um erro comum de jovem organizador de eventos: inconscientemente desejou brilhar e literalmente brilhou.
 À chegada do panelão, com as peças de frango meio mergulhadas no arrozal, todos nós estremeçemos de terror: os tons castanho escuros do arroz nada condiziam com a camisa de linho e ameaçavam fortemente a integridade higiénica e estética do Eurico.
Devo dizer que o que aconteceu foi verdadeiramente memorável. O Eurico, primeiro recorrendo a uma toalha de mesa de papel e posteriormente apenas ao guardanapo, conseguiu sair sem uma única marca do arroz na camisa. Impressionante. Acho que não ficaria mais surpreendido se me dissessem que o bisavô do Eurico participou no desembarque do Dia D de camisa em puro algodão azul celeste, calça de fazenda em branco neve, a calçar uns mocassins cor esmeralda e no final do dia só teve de mandar a camisa para uma limpeza a seco.

É urgente informar e sensibilizar as pessoas para a necessidade de adequarem o seu vestuário em função da ementa.
Obviamente que para um pica seria uma boa solução as calças de ganga ou sarja em algodão leve, com um pólo ou sweat coloridos (até com estampados), podendo-se complementar com parkas multibolsos ou coletes tipo explorador. Tonalidades à base de cinzas e azuis. Aliás, também uma excelente opção para bacalhaus, claramente dominados pelos amarelos.
Para um cabrito assado, talvez um blaser, umas calças às riscas em tons caqui e um sapato marron. Para uns mariscos podemos falar de calções em denim e sandálias ou alpercatas de tecido.
Um erro comum em muitos jovens tem a ver com o cabelo. Julgo que há um certo exagero nos cortes médios para penteados com mechas torneadas ou lisas, fixas com ajuda de muito gel. A utilização de gel pede umas batatas a murro, um leitão, mas nunca os estufados. Para uns estufados julgo que o ideal é cabelo desalinhado, com patilhas longas.
E muito há a dizer sobre acessórios. Poucos homens sabem adequar cintos, carteiras, relógios e chapéus ao que vão comer. Mariscos não dão com boinas e nem pensar em gorros ou relógios swatch numa chanfana. Lenços e écharpes só em restaurantes onde não encontremos ninguém conhecido.

Relativamente ao Buraquinha. O frango era robusto, caseiro, de crista farfalhuda e pata sofrida, com marcas de uma vida dura no campo. O arroz estava soltinho, mas faltava-lhe mais vinagre. A acidez é importante para os movimentos da boca. E talvez isso explique que o Eurico se tenha safado com a camisa imaculada. O arroz digeria-se demasiado depressa, sem arrepiar... Não é bom sinal para um pica quando um homem de camisa branca sai incólume. Faltou garra à equipa e isso pode ter sido porque o pica não deu pica.

4 comentários

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