Feira do Fumeiro de Montalegre
Muitos acreditam que fazer parte de um grupo como os Chispes traduz-se por uma entrega desenfreada aos prazeres gastronómicos que nos seduzem em cada esquina. Se fosse apenas isso, os portugueses aos 18 anos primeiro inscrever-se-iam em confrarias gastronómicas e só depois é que iriam tirar a carta de condução.
Não senhor, também é preciso trabalhar, participar em conferências de imprensa, ir a debates, realizar palestras, colaborar com task-forces no sentido de encontrar orientações para o futuro ou integrar comissões de estudo.
Esta semana coube à minha pessoa assistir à apresentação da XVIII Feira do Fumeiro de Montalegre, que irá decorrer de 22 a 25 de Janeiro e onde são esperados mais de 50 mil visitantes.
Uma visita obrigatória para quem, como nós, aprecia o admirável engenho humano. A criatividade do homem é surpreendente e é impossível não ficar sem respiração perante tudo aquilo em que os portugueses conseguem transformar um porco. Alheiras, sangueiras, chouriços de abóbora, chouriças, salpicões, presuntos, cabeças, chispes, pés, e tantas outras iguarias. O nosso povo é extraordinariamente criativo. Quem é que se terá lembrado de pegar em tripas, lavá-las e atafulhá-las por dentro de carne e pão?
Não é por acaso que Portugal não é propriamente um país com uma grande diversidade zoológica. Obviamente que depois do que fizemos ao porco, a maior parte dos animais migraram daqui para fora.
A Feira do Fumeiro de Montalegre é um encontro com esse génio inventivo, mas também com uma gastronomia que nasce da relação intensa de um povo com a natureza que o rodeia: a montanha e o frio.
Uma gastronomia que transporta consigo os valores, as crenças, os hábitos e as aprendizagens de vários séculos do povo do Barroso. Muito diferente da comida sem alma, sem cicatrizes, sem história e sem folclore que tantas vezes nos chega à cidade.
Eu e um colega de profissão numa atenta e exigente prova de degustação dos produtos do Barroso.