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Chispes e Couratos

Neste espaço não se discriminam gostos, fetiches, taras, manias, desvarios ou inclinações gastronómicas. Só não toleramos seguidores fanáticos do tripadvisor.

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30
Abr09

Quem pediu uma Revolução de Abril?

JP

35 anos depois do 25 de Abril muitos portugueses continuam sem saber o que representou a revolução para o país. Provavelmente, o aspecto mais positivo do 25 de Abril foi a implantação dos churrascos no quotidiano dos cidadãos.  Foi graças à descolonização que obrigamos a regressar à base os portugueses das colónias e, com eles, milhares de  churrasqueiras com os seus frangos ao piri-piri, costelinhas e salsichas grelhadas. Uma mudança que veio alterar a face de Portugal. Os frangos abertos e espalmados deram um enorme impulso à nossa economia, dinamizando as indústrias aviárias, de papel de embrulho, piri-piris, pincéis, palitos, aventais, sacas de plástico e, obviamente, a serralharia, que ajudou a colocar a palavra churrasqueira e a imagem de um frango em todas as freguesias deste país. 

Com este negócio floresceu o das cervejas e também o dos vinhos. Para mim, um dos impactos mais negativos da revolução. Com as churrasqueiras, milhões de portugueses tornaram-se consumidores crónicos de Terras D'El Rei, cujas verdadeiras consequências ainda não foram devidamente estudadas.
Outro dos equívocos do 25 de Abril tem a ver com a sua amplitude. A fazer-se uma revolução, também não era preciso ser para tudo e para todos. Sem um regime autoritário era impossível manter milhões de portugueses em ambientes rurais para nos produzirem as nossas preciosidades gastronómicas: carnes tenrinhas e caseiras, enchidos, legumes frescos e a boa cozinha em panelinhas de barro e fogões a lenha. E isso está irremediavelmente perdido. Quer queiramos quer não, a revolução veio permitir que os avós e os tios, que antes todos tinhamos na aldeia e que nos garantiam o acesso aos melhores produtos da nossa terra, abalassem para as cidades. Atrevo-me a dizer que a figuras do tios e do avós perderam quase toda a importância e utilidade, e acabarão mesmo por desaparecer, agora que já não estão ligadas ao acesso a batatas, alfaces, vinhos, galinhas, coelhos, porcos e vacas, etc. Até hoje, nenhum dos cabecilhas da revolução veio a público assumir: "Eu ajudei a destruir as bases do nosso país rural e empenado que tornavam possível esta maravilhosa gastronomia e por isso mereço ser castigado". Ainda por cima, vindo dos militares que, como todos sabemos, são dos maiores promotores da gastronomia nacional.
Felizmente, eles estão ligados a outros aspectos positivos no 25 de Abril. Com a revolução vieram os jantares anuais comemorativos do movimento e, mais importante ainda, os almoços dos batalhões e companhias de ex-combatentes no ultramar. Sem dúvida, um impulso extraordinário para o crescimento da restauração nacional. Graças a este novo fenómeno floresceram quintas e restaurantes com pelo menos 300 lugares sentados pelos distritos de Leiria, Santarém e Coimbra.
Contudo, 35 anos depois da revolução não devemos colorir a história com as cores que nos agradam mais. Chegou a altura de fazer um tributo a líderes como Salazar e ao seu papel fundamental e determinante na construção da nossa identidade. Como se costuma dizer, "a rica gastronomia que hoje temos deve tudo à nossa pobreza". Foram estes líderes carismáticos e fundamentais que, ao longo dos séculos, também ajudaram a manter o nosso país numa decisiva pequenez e numa situação económica e cultural lastimável, sem a quais não teríamos a mesa que temos hoje. E os resultados estão à vista de todos: cozidos, açordas, caldeiradas são um enorme património que só podemos agradecer a tudo e a todos que criaram as condições para potenciar a nossa criatividade gastronómica. Seria importante que os portugueses reflectissem muito bem sobre o caminho que pretendem percorrer daqui para a frente.

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