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Chispes e Couratos

Neste espaço não se discriminam gostos, fetiches, taras, manias, desvarios ou inclinações gastronómicas. Só não toleramos seguidores fanáticos do tripadvisor.

Chispes e Couratos

Neste espaço não se discriminam gostos, fetiches, taras, manias, desvarios ou inclinações gastronómicas. Só não toleramos seguidores fanáticos do tripadvisor.

19
Jan09

“Pica” furado

Paulo

Era com enorme expectativa que aguardava a deslocação ao restaurante Pedra Furada, em Barcelos. Isso devia-se ao facto de alguns membros do Chispes (idóneos e de confiança nas matérias gastronómicas) dizerem que era lá que se podia comer “oPica no Chão, superior no top ao do Arafate, em Braga, o melhor que eu já tinha comido.
Por isso, formado um grupo para satisfazer a curiosidade de há muito tempo, enfrentamos a noite mais gélida dos últimos anos para conhecer tão afamado Arroz de Cabidela. Não perdendo tempo com pormenores (sim, o restaurante é agradável, com uma bela sala de estilo rústico, o atendimento é simpático), avance-se para o essencial: o Pica no Chão.
Ora bem, quais os requisitos fundamentais para um Pica como manda a lei? Para começar, um frangalhão caseiro, daqueles que anda de peito feito e crista levantada pelo quintal, a galar as galinhas e a bicar as cabeças dos seus concorrentes mais fracos, todo ele carne e músculo, cujo cantar trovejador é ouvido em toda a redondeza e a qualquer hora. Depois, muito e bom sangue (do mesmo frangalhão, claro). Bastante vinagre. Um arroz cozido “au point” e que fique super-aguado.Pica no Chão do Pedra Furada
Custa ainda a crer, mas o Pedra Furada, desta vez, falhou em praticamente toda a linha, apenas o requisito do arroz foi cumprido. O frango não era caseiro ou então tinha sido cozido durante uma eternidade para castigo do bicho, tal era a moleza da carne, própria de um qualquer exemplar de aviário. Para agravar a situação, o sabor do Pica estava inexplicavelmente amargo. É normal haver queixas de falta ou excesso de vinagre, mas neste Arroz de Cabidela o problema tinha origem numa outra qualquer razão não identificável (sangue? tempero?). Para ajudar à festa, até se deu o misterioso desaparecimento dos “miúdos” do frango. Inicialmente foi-nos assegurado que estavam lá, algures no meio do arroz, era uma questão de procurar bem; posteriormente, quando tardavam em aparecer nos pratos, a explicação, sujeita a averiguação, seria que tinham, talvez, sido esquecidos; mas, no final, a solução para o mistério seria a de que se tinham desintegrado por excesso de cozedura! Volto a remeter para uma de duas hipóteses: castigo por algo que a ave fez em vida ou frango de aviário armado em galo de Pica. Ou então, o fígado já estaria num avançado estado de cirrose e o coração havia sido dado para transplante (já quanto às moelas não consigo encontrar explicação para se terem “derretido”).
Não bastava a desilusão de não só não ter comido o melhor Pica como ter sido um dos mais fracos, ainda por cima pagou-se como se de facto tivéssemos comido o Pica dos Picas (consequência do Pedra Furada ter feito parte do Guia Michelin de 2007? Mesmo que esta experiência em concreto lhe permita constar apenas de um guia de recauchutados?)
É sempre preocupante a variabilidade de um restaurante na qualidade apresentada, se não há mal em oscilar entre o muito bom e o bom, nunca deveria alternar entre o muito bom e o fraco; além de que põe em jogo a credibilidade das fontes que o sugerem. Ao nível do Chispes e Couratos, tão grande desapontamento motivou a imediata suspensão do nosso top Pica no Chão para posterior reavaliação e a adopção de critérios mais rígidos para a entrada de um restaurante num top.
No final, um dos membros que tinha ali comido o seu melhor Arroz de Cabidela, há um ano, dizia, no rescaldo deste “flop”, que não se devia voltar aos locais onde se foi feliz. Não concordo, acho que devemos regressar muitas vezes aonde fomos felizes e, isso sim, nunca voltar aonde não se foi feliz!

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