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Chispes e Couratos

Neste espaço não se discriminam gostos, fetiches, taras, manias, desvarios ou inclinações gastronómicas. Só não toleramos seguidores fanáticos do tripadvisor.

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03
Dez08

Alerta Bacalhau!

JP

Portugal é o maior consumidor de bacalhau seco do mundo: representa uma ingestão per capita de seis quilos por ano. De certeza que alguém ficou a arder em 3 quilos porque eu nunca fico abaixo dos 9 quilos. Todos sabemos que estes cálculos per capita são injustos, mas uma vez calha a uns, outra vez calha a outros. Por exemplo, o consumo anual de vinho dá para cada português 16 litros. Claro que eu confesso que ando a beber os meus e os de, pelos menos, mais 10 portugueses (um direito que me assiste, uma vez que tenho vários familiares que não bebem álcool e tomei a liberdade de ficar com os litros deles). Contudo, devia-me calhar, nas contas per capita, pelo menos um copito de Barca Velha ou Pêra Manca e alguém os anda a emborcar por mim. Se formos por aí, então isto nunca mais acaba.


Mas os números que me trazem aqui são outros. Portugal consome anualmente 70 mil toneladas de bacalhau seco. O Brasil já vai perto das 30 mil toneladas, um número que começa a assustar tanto mais que em 2000 rondava as 11 mil.
Mas o que me chocou foi quando descobri que afinal são pescados anualmente cerca de 500 mil toneladas de bacalhau em todo o mundo. Para onde está a ir este bacalhau todo? Eu sempre pensei que os portugueses fossem os grandes consumidores, que o Bacalhau representasse a nossa maior conquista, o nosso grande segredo, a essência da Alma Portuguesa. Mas não, afinal há mais pessoal a malhar-lhe e nós a vivermos na ideia inocente de que o Bacalhau era só nosso. O tanas.
Na verdade, o nosso consumo de 70 mil toneladas era ambientalmente sustentável, era um consumo mais do que amigo do Planeta (era como pescar um bacalhausinho de cada família, os parentes nem davam pela falta), não houvesse outros povos a meterem o bedelho nos alimentos dos outros.
O que me assusta é esta irresponsabilidade de alguns portugueses que andam por esse mundo fora a espalhar que os outros não sabem comer, que o bacalhau é maravilhoso e que pode ser preparado de mil formas diferentes. Claro que a coisa começa a espalhar-se e os outros metem-se a experimentar.
Defendo que os cidadãos portugueses ou de dupla nacionalidade (como emigrantes) que andem a lesar o nosso bem comum devem ser responsabilizados criminalmente. Estou farto de ouvir: “preparei um bacalhau para os meus amigos franceses, que nem sabiam o que era Bacalhau, e eles ficaram deliciados, até me pediram a receita”. Nabos. Um dia destes vemos o nosso bacalhau à “Gomes Sá” conhecido em França como o “La morue à la Gaston "Raymond Poincaré".
Fomos nós que tivemos a ideia de integrar nos hábitos alimentares o Bacalhau. Espero que o nosso governo faça valer isso quando a pressão das pescas obrigar a impor fortes restrições no consumo.
Os primeiros a cortarem deviam ser franceses, ingleses, húngaros, polacos, tchetchenos, sérvios, romenos, iranianos, etc, que nem vão dar por ela. Se cortarem 1% aqui, 0,5 % acolá, no final deve dar umas valentes toneladas de bacalhau que fica nos mares a procriar.

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